sábado, 23 de abril de 2011

O mito da “torcida nacional”

Está acontecendo um debate interessante no site da radio 730, blog do jornalista Gerliézer Paulo (http://www.portal730.com.br/blogs/esporte/gerliezer-paulo/19279-eu-sou-bairrista.html) a respeito de bairrismo. O jornalista defende sua torcida pelos times de Goiás sempre que um deles jogue contra times de fora do Estado de Goiás. Todavia os comentários postados por mim e vários outros leitores extrapolou a simples idéia de torcer por qualquer time do Estado para focalizar na necessidade de se torcer por um só time de Goiás.

Interessante é que, neste ponto, independente do amor individual por seu time, vários torcedores comungaram a mesma opinião: um estado só terá um futebol forte se seus torcedores torcerem apenas para times da terra. Muito bom ver torcedores de Vila Nova, Goiás e Atlético defenderem a mesma bandeira.

Obviamente, existem aqueles que defendem a idéia que se pode torcer para dois times, um de casa e outro “de fora”. Já escrevi aqui outros textos sobre torcedores híbridos, mas o debate levantou novos argumentos. Tomo a liberdade de escrever trechos meus e de outros torcedores a tal respeito que refutam os “argumentos” daqueles que defendem o conceito de “torcida nacional”.

Um “torcedor” santista postou que não torce para times de Goiás porque não tem história. Transcrevo o que escrevi: “Existe uma coisa que se chama SISTEMA. Certamente, uma coisa da qual você nunca ouviu falar. O SISTEMA é uma estrutura que se mantem por conta de determinadas premissas que podem ser aceitas ou não. Aqueles que se beneficiam do SISTEMA querem que as coisas permaneçam como estão. Promover um Flamengo, um Palmeiras, um Corinthians rende uma fortuna para quem domina o SISTEMA. Para isso, o SISTEMA precisa de quem replique e não de quem questione. E apresenta aos replicantes uma série de ‘argumentos’ para defenderem as suas ideias. Com um agravante: essas ideias são plantadas nas cabeças dos replicantes para que eles pensem que são ideias deles próprios (no caso, os replicantes)!!! Assim, milhões e milhões de reais entram nas contas dos times com "torcidas nacionais", enquanto que os times dos Estados vivem à míngua. O dinheiro do royalty da camiseta, do calção, da chuteira, da caneca de chopp, do chaveiro, do relógio com o escudo, etc., vai para o time de fora.

E vem você e diz que não tem nada a ver uma coisa com a outra! Uau!! Você deve ser um questionador, né? O replicante sou eu, decerto. Afinal, eu sou torcedor do Vila e só. O fato de cada imbecil que diz torcer para o Vila e para outro time "nacional" não quer dizer nada, né? Eu tenho três camisas oficiais do Vila, compradas nas lojas. Os royalties dessas camisetas foram para o Vila. Imagino se cada vilanovense só comprasse os produtos do Vila. Quanto dinheiro não entraria para reforçar os cofres do Tigre! Isso serve para torcedores de Goiás e Atlético tambem. É... certamente eu sou o replicante e você é o questionador! Em resumo, o SISTEMA precisa de gado.

O mesmo torcedor disse que os grandes craques surgiram em grandes clubes e que já tinha ido mais vezes à Vila Belmiro que ao Serra Dourada. Escrevi o seguinte: “Parabens! Você ganhou seu dinheirinho suado aqui em Goiás e foi despejar nos cofres do Santos. Ainda por cima foi gastar com estadia (talvez) e alimentação (certamente) em São Paulo. Legal! Foi ajudar o Governo paulista e, por tabela, melhorar as condições de vida dos paulistas. A(s) camiseta(s) do Santos que você comprou vai (ou vão) render royalties para o time peixeiro. Que, por tabela, vão para os cofres do Governo paulista para melhorar as condições de vida dos paulistas. Isso é que eu chamo de cidadão consciente!
Num tempo em que futebol profissional ou semi-profissiona l só existia no eixo Rio-São Paulo, tudo bem! Havia justificativa para se torcer por time de fora. Onde, então, iriam surgir grandes craques. No Acre?
Hoje, muitos jogadores que estouram nos grandes clubes vem de pequenas cidades do interior. A começar pelo maior de todos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, nascido em Três Corações, MG. Talvez tenhamos vários Neymars ou Zicos pelo nosso interior de Goiás e que jamais vão jogar bola profissionalmen te, já que os clubes em que poderiam despontar (entenda-se times goianos) vivem de pires na mão.

Você ganha 200 mil reais por mês, moço? Era só o contrato que o Bruno, ex-goleiro do Flamengo, tinha (acho que ainda tem) com uma empresa de material esportivo, antes de ser preso. Graças a pessoas como você é que o status quo se mantem. Não vou nem prosseguir meu comentário. Os Ricardo Teixeira da vida precisam é de gente como você para faturar os milhões que faturam.

Luiz Carlos escreveu: “Acho que todos têm direito de torcer pra qualquer time, independente do Estado. Agora, dizer que torce pra um time por causa de títulos, me desculpe, mas é no mínimo ridículo. O que fizeram Cruzeiro e Atlético-MG; Grêmio e Inter; Bahia e Vitória; Atlético-PR e Coritiba se fortalecerem foi a conquista do público local e o povo comprando a ideia de que tais times podem ir pra frente. Os times de SP e RJ enriqueceram por haver emissoras vendendo imagem deles 365 dias por ano pro Brasil inteiro. Duvido que, se os grandes do Rio-SP tivessem que galgar espaço desde as séries inferiores, a história destes se repetiria. É complicado mudar da noite pro dia a cabeça de quem foi manipulado pela mídia por mais de 30 anos. Eu ainda hei de ver o Goiás retornando a série A, o Atlético se mantendo e o Vila subindo. Crescimento destes times chama a atenção, é mais exibição na mídia, mais empresas tendo interesse em nosso Estado. Pq vcs acham que o Acre não consegue tanto enfoque?” Certíssimo!

Comentário meu para outro torcedor híbrido: “É óbvio que os milhões de reais que um Galvão Bueno, um Ricardo Teixeira e outros dependem de pessoas que defendem torcer para clubes de fora. Certamente, você é um dos poucos que faturam milhões por ano vendendo a ideia que torcer para time de fora não faz diferença, né? Você não é um dos que compram a ideia de "torcida nacional", né? Você só fatura alto encima dos manés que acreditam nessa lorota, né? Lembro que o Bruno, ex-goleiro do Flamengo, antes de ser preso, tinha um contrato com uma dessas empresas de material esportivo de 200 mil reais mensais. Obviamente, a empresa estava ali só pra fazer graça, né? Ela não tinha retorno nenhum vendendo camisas com o nome dele nas costas, né? E os nossos times mal tem dinheiro para se manter, né? Certamente, você tambem deve ganhar uns 200 mil reais por mês, né? Afinal, os Galvão Bueno da vida precisam de manés para faturarem alto nas costas desses imbecis, né?

Este último comentário decorre do quadrangular final do Brasileiro Série B de 1999, quando o Vila, que tinha um grande time, foi “operado” em pelo menos três jogos contra Bahia em Salvador, Santa Cruz em Recife, e Goiás no Serra Dourada (neste eu estava presente. Sua Senhoria, o árbitro, amarrou o Vila Nova todo o jogo). Simplesmente porque o Sr. Galvão Bueno, conforme me foi dito por quem viu o jogo pela TV, dizia o tempo todo: “o Goiás não pode ficar fora da Série A.” Essa foi a senha para Sua Senhoria “operar” o Vila. Eu pergunto: por que o Goiás não pode ficar fora da Série A? Qualquer um que não tenha competência para subir para a Série A deve ficar na Série B! Ou deveria. Todavia, forças ocultas sempre influenciaram para o que valesse em campo não valesse para o resultado final. O Vila Nova era o melhor time daquele quadrangular. Ficou em quarto lugar!!!

Bruno Lima escreveu com muita propriedade, em resposta ao santista que diz torcer pelo Santos ‘por ser um time vencedor’: “Apesar de muito bem colocada a realidade dos clubes goianos, e muito bem escrito, o que respeito muito, torcer para um time só porque ele é vencedor está muito longe daquilo que faz alguém torcer para uma equipe. Sinto muito, mas você deve ser daqueles torcedores de TV, que se seu time estiver mal, você só vai saber da notícia na segunda ou terça-feira, e se alguém for "zoar" com você, vai dizer que nem liga pra futebol. O Sr. não serve de exemplo como torcedor. Se fosse assim, em Minas o Atlético-MG teria perdido grande parte de sua torcida, pois depois de 1971 só venceu estaduais, e mesmo assim sua torcida cresceu, justamente pelo bairrismo. MG e RS tem grandes equipes, justamente pelo bairrismo. A força do povo é que obriga, a muito contra gosto, as principais emissoras deste país a dar espaço a estes clubes. Tal bairrismo chegou ao ponto de a RBS (repetidora da Globo) ser mais poderosa que a própria Rede Globo em seu Estado. Lá, os jogos de Inter e Grêmio tem prioridade, e é por isso que os patrocinadores pagam grandes valores a Inter e Grêmio, porque o telespectador gaúcho não quer ver Flamengo e Corinthians. Concluindo, uma grande cidade, um grande estado e um grande time, só se fazem com muito amor pela terra em que nascemos e em que vivemos e isso é bairrismo.

Este debate vai longe e fico satisfeito por ver que existem muitos torcedores conscientes em Goiás.