quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Janis Joplin


Sempre que estou aqui jogando meu xadrezinho contra o computador (afinal ninguém é de ferro!), costumo ouvir música (e eu disse música, não lixo, se alguém chegar a pensar que eu compartilho do mau gosto da maioria das pessoas desse país). E, devo confessar, é lamentável eu ter descoberto Janis Joplin tão tarde! Tendo trabalhado mais de 17 anos em rádio eu deveria ter aprendido a gostar. Todavia, nunca me despertou qualquer interesse. Afinal, eu pensava tratar-se apenas de modismo, de uma cantora que satisfazia apenas um nicho cheio de hippies mal-cheirosos ou intelectuais antiquados dos anos sessenta.
Agora, às portas da meia-idade, começo a ouvir Janis e me encanto com a vitalidade dessa voz, décadas após a morte de sua dona. De repente, começo a imaginar como ela deve ter incomodado a sociedade conservadora da época. A voz de Janis não pode ser comparada com as vozes de cantoras negras, reconhecidamente de enorme potencial dentro da música norte-americana. Simplesmente porque a voz dela não se pode comparar a nenhuma outra! É única! Indubitavelmente, é uma voz única!
É pouco provável que, caso tivesse me apaixonado por ela na adolescência, eu viesse a experimentar ácido ou qualquer outra porcaria, por ela ter sido elevada (ou rebaixada) a exemplo para todo tipo de viciado ou coisa parecida. Nunca foi minha praia. Nunca precisei de um toco de qualquer coisa com uma brasa na ponta ou um copo cheio de álcool para me resolver. Mas, certamente, eu teria adicionado ao meu acervo de som de qualidade mais esse.
Em O Visitante eu já escrevi que, quando se ouve uma música, se aprecia um lance de futebol, se lê um bom livro, o fã está reconstruindo, de alguma forma, o ato de criação do autor. Cada vez que se ouve uma boa música, o ouvinte se transporta para o momento em que foi criada. Por isso, quando mais se sobe na escala intelectual, menos esse lixo que é empurrado dia a dia para todo mundo, especialmente pela TV, passa a agradar. Mas isso é assunto para outro artigo.
É extremamente prazeroso ouvir Take a Little Peace of My Heart ou Summertime. A voz de Janis penetra nos ossos, é de arrepiar! Além de serem belas canções. Infelizmente, este tipo de experiência eu não posso transferir, apenas relatar. É muito bonito, é muito belo. Pena que uma artista desse naipe tenha morrido tão jovem e nas circunstâncias em que morreu.
Quanto ao fato de eu ter me referido a hippies e viciados, não me levem a mal. Não tenho preconceitos. Eu sei que o toxicômano é um enfermo que precisa de tratamento, espiritual, emocional e físico; quanto ao mito do hippie mal-cheiroso, hoje eu me lembro que, apesar de me banhar todos os dias, eu não cheirava muito bem na minha adolescência, reconheço (rss). Tanto que, alguns anos atrás encontrei uma ex-colega de segundo grau que disse não se lembrar de mim. Até que ela disse: “Ah, lembrei: você era meio hippão, assim...” Quando contei para o Henirdes, ele bem disse que a Cláudia só podia estar zombando. Afinal, a nossa galerinha mais fechada tinha eu, ele, Kika, a própria Cláudia, Sheila, Keila, Tânia, Vânia, Gustavo, João Batista, Gilberto e mais uns dois ou três outros, possivelmente, de quem não me lembro agora. Ela não precisava dizer que não se lembrava...
Uma ex-professora de Psicologia que tive, Kellen, me disse que uma fase da adolescência pode ser a do desasseio, principalmente para aqueles que se sentem excluídos, como os feios e CDFs. Eu tinha ambas as características (rss). Graças a Deus eu nasci pobre, feio e looooooonge... o que me impediu ser medíocre. Nas próximas encarnações espero ter a mesma sorte.
(P.S.: quando se diz que se está jogando contra o computador, diz-se uma bobagem. Joga-se contra um programa. E eu tenho um muito bom: Fritz 6.0. Apesar da versão mais atual já estar por 11.0. Todavia, eu quase sempre sou massacrado pelo 6.0. Que pretenderia ser pelo 11.0? Moído? Defenestrado? Amassado? Ui!...)

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