quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Excesso de Bagagem 1

Quando estive de férias em Itanhaém em meados de outubro passado, tive a oportunidade de rever meu caríssimo amigo Rubens (amigo desses que se contam nos dedos de uma mão, e não “amigo” daqueles que chegam e passam pela vida da gente, muitas vezes sem deixar vestígios) e passar um dia inteiro em sua casa em Santos.
O Rubens é Mestre Internacional de Xadrez, escritor como eu, além de uma das maiores cabeças pensantes que eu já conheci. Talvez sejam estas algumas das razões que o fazem um de meus melhores amigos.
Conversamos muito, pois fazia muito tempo que não o via pessoalmente, e trocamos inúmeras idéias sobre variados temas. Naquela oportunidade, ele me apresentou Gossage e Verbedian, um hilário texto de Woody Allen a que ele já tinha se referido e que eu pude ler pela primeira vez. Recomendo o mesmo para todo enxadrista, aficcionado ou profissional. Basta digitar Gossage e Verbedian no Google que quase qualquer site tem o texto.
Pois bem. Num determinado momento, ele me disse que pretende escrever um romance, mas que ainda estava em fase de preparação do mesmo e queria embasar bem o novo texto. Afinal, seria seu primeiro romance, já que até aqui ele tem escrito mais obras de xadrez e crônicas. Ele então disse que, para mim seria mais fácil escrever romances, pois já tinha escrito dois. Eu retruquei que não era bem assim, já que ele tinha suficiente bagagem cultural para escrever facilmente um romance. Ele riu e falou: “Eu diria excesso de bagagem. Este é o problema! A gente paga por isso.” Eu ri muito desse trocadilho.
Todavia, de volta a penates, fiquei meditando sobre estas palavras e vi que isto era muito mais profundo que parecia à primeira vista.
De fato, quando você se arruma para uma viagem, naturalmente prepara sua bagagem. Dependendo da distância que vai percorrer, você leva mais ou menos bagagem. Assim, para viagens longas, distantes, você leva muito mais coisas do que para fazer um percurso curto. Quando se trata de viagem aérea, especialmente, você paga pelo excesso de bagagem. Mas se, obviamente, você vai mais longe, sempre compensa, não importa o quanto você pague. Já determinadas pessoas preferem não pagar excesso de bagagem, uma vez que não vão a lugar nenhum, quando muito para um lugar muito próximo. Neste caso ela vai de bicicleta, ou de moto, ou de carro.
O que existe de profundo é a conotação que isto tem com a vida, a jornada na Terra de qualquer indivíduo. Quando o sujeito se decide por ir mais longe, ele procura os meios de fazê-lo. Neste caso, a Cultura. Uma vez, numa dedicatória de um livro a uma amiga, eu escrevi: “A Literatura é um barco que nos leva aos confins do Mundo.” A Cultura (não confundir com Cultura Popular) é a base de distinção dos indivíduos. Que me perdoem os que não a têm. Ela é a bagagem a que me refiro. Quanto maior a bagagem cultural do indivíduo, mais longe ele vai.
Todavia, os que a têm pagam um preço, geralmente alto, por tê-la e ir mais longe. O preço é ser visto como um ‘inimigo’ por aqueles que não a têm. Assim, nós sofremos todos os dias com a falta de educação e cultura da grande maioria das pessoas.
Por exemplo: música sertanoja. Meu Deus! Os que gostam “disso” cobram-nos o respeito pelo gosto deles, mas a recíproca não se aplica! Eu saio de casa e tem sempre um imbecil com o rádio do carro ou de casa com o volume a mil num som desses! Não estão nem um pouco preocupados em respeitar aqueles que detestam esse tipo de coisa. Cobram respeito quando não têm a mínima noção do que seja isto. Não que eu não goste de Música Sertaneja. Trabalhei em rádio por 17 anos e eu sei o que é Música Sertaneja. Não é isso que tem por aí, não. Eu não gosto é de páraquedista. Um pessoal que não tem a mínima raiz no campo e se diz “sertanejo”. Ah, por favor!

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