quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Educação e Humanismo

A cada homem e mulher está colocado o desafio da Humanização. O Homem tem, em sua base, os valores repassados, num primeiro estágio, pela família, num segundo, pela comunidade em que vive, e, a partir daí, dos vários segmentos que o cercam.
Não há como se exigir de cada ser humano o mesmo comportamento frente à realidade. Uma pessoa, criada dentro de um ambiente familiar culto e bem estruturado financeiramente, tem uma visão de Mundo diferente da de um outro, nascido longe de um mínimo de conforto e educação. O conceito de cidadão não pode aplicar-se da mesma forma a um e outro! Este processo, em nossa sociedade, vem desde que a Educação foi sugerida como forma de prover uma bagagem mínima de cultura a cada ser humano.
Em seu texto Educação após Auschwitz, o educador alemão Theodor Adorno vê a Educação como forma de se evitar a barbarização da sociedade. Esta barbarização seria a repressão aos valores inerentes à Humanidade, tais como respeito, dignidade, tolerância, etc.. A Educação teria o papel de desenvolver uma auto-reflexão crítica em cada indivíduo. Esta seria a capacidade de discernir-se os limites de comportamento, sem ferir aqueles valores, que são direitos intrínsecos de cada ser humano.
Citando o livro O Estado da SS, de Eugen Kogan, Adorno refere o fato de que os carrascos e carcereiros de campos de concentração nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, eram, em sua grande maioria, nascidos e criados em aldeias e áreas rurais da Alemanha e dos países ocupados, onde a educação formal era deficiente, longe dos grandes centros onde se ministrava uma educação mais eficaz. E sugere como antídoto à barbárie (no sentido de desumanização) que a Educação seja levada a todas as pessoas, em todos os lugares, com os meios que sejam necessários e possíveis.
A Educação esteve nas mãos da Igreja Católica desde a queda do Império Romano e teve um caráter eminentemente religioso até a Idade Média. A posse da informação e da cultura deu à Instituição o poder supremo sobre toda a Civilização Ocidental durante aquele período. Com a Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero, as pessoas foram incentivadas a ler, particularmente a Bíblia, o que era proibido pelos cânones católicos. Para ler-se é necessário educar-se. A partir daí, a Educação começou a ser vista como necessidade à população em geral. Escolas foram criadas, mas dentro de certos limites, e oferecidas ao povo.
Com o evento das Grandes Navegações, expandiu-se, também, a concepção de Mundo. O Teocentrismo deu lugar ao Antropocentrismo e o Homem passou a buscar novos rumos, a trilhar novos caminhos. Um eco disto está nas colônias inglesas da América, protestantes, que originaram sociedades bem educadas e seus reflexos podem ser observados nos dias de hoje, como nações desenvolvidas.
Em adendo, vê-se que, hoje, uma maior especialização é exigida de trabalhadores. Empresas, públicas ou privadas, exigem, cada vez mais, profissionais com formação superior. Em uma fábrica de automóveis, por exemplo, um soldador, que anteriormente pregava rebites ou aplicava soldas na junção de placas, hoje, deve saber operar uma máquina que faz o mesmo com maior eficiência e rapidez, mas cujo manuseio exige um conhecimento mínimo de sua operação.
E isto exige Educação. Quem não se ajusta a esta realidade, passa a fazer parte daquela legião de excluídos, desempregados ou subempregados. A educação escolar deve ter a função, antes de mais nada, de formar cidadãos. O conceito de cidadania sugere um ser humano com uma educação formal que lhe permita a inclusão no mercado de trabalho, na sociedade, no Mundo, em iguais condições que qualquer outro.
Em síntese, é necessário que o Homem se eduque, pois o conhecimento é libertação, seja o conhecimento da verdade, seja o conhecimento da versão de cada um. Educação é libertação e Liberdade é um conceito humanista. Concluindo, pode-se dizer que Educação e Humanismo são irmãos e andam de braço dado.

Um comentário:

Mauro Araujo disse...

Agradeço a observação. Esta não é a minha área de atuação principal, eu confesso. Todavia, eu acredito, sim, que podemos e devemos buscar a ampliação de nossa cultura com a assimilação de valores de outras culturas. Afinal, tal como como digo na minha postagem sobre Reforma Ortográfica, a nossa Língua Portuguesa surgiu da "corrupção" do Latim, ao agregar palavras de outras culturas ao seu vocabulário original. Creio que devemos buscar a agregação de outros valores à nossa Cultura. Em texto anterior, eu expus que a Educação é a porta de entrada do Homem num Mundo mais vasto. Não necessariamente na preparação de mão-de-obra para o Mercado, tão-somente. Este é apenas um aspecto do problema. Ou da solução. Mais uma vez, muito obrigado pela opinião.
Mauro