quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Excesso de Bagagem 2

Vai aqui uma pequena lista de cantores sertanejos que eu respeito: Sulino e Marrueiro, Pedro Bento e Zé da Estrada, Tonico e Tinoco, Mensageiro e Mexicano, Belmonte e Amaraí, Caçula e Marinheiro, Zé Carreiro e Carreirinho, Tião Carreiro e Pardinho, Zé do Rancho e Zé do Pinho, Nestor e Nestorzinho.... e por aí vai. Do pessoal novo, que eu respeito pelo fato de terem raiz sertaneja mesmo: Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Christian e Ralf (que fizeram um ótimo disco de moda de viola no início da carreira), Leandro e Leonardo, Daniel (não gosto do repertório, mas reconheço que é sertanejo), Milionário e José Rico (que não são novos nem um pouco... rss), Chico Rey e Paraná, Valderi e Mizael (onde andam?), Matogrosso e Mathias... e os anteriores a esses últimos... Juliano e Jardel... sei lá. Estes são sertanejos.
Os mais novos, até que provem o contrário, são páraquedistas, moços de famílias urbanas que cantam esse negócio aí pra faturar alto encima daqueles que... não têm bagagem! Ou seja, assim se fecha o ciclo: esse pessoal gosta desse tipo de coisa porque não tem bagagem ou não tem bagagem porque gosta desse tipo de coisa?
Eu já disse aqui que fui criado à “sombra dos festivais”. Não dá pra engolir isso que tocam em rádio hoje em dia.
Meu irmão disse recentemente uma frase muito interessante: “Não dá pra entender um país que tem um Chico Buarque perder tempo com música sertaneja.” Realmente, muitos países gostariam de ter músicos como o Chico, Tom Jobim, Milton Nascimento, Caetano, Carlos Lyra, João Gilberto... O Brasil tem esses e muitos mais e só ouve... música sertaneja. Mas para quem não tem horizonte, para quem não vai a lugar nenhum, para que gostar desses grandes nomes da MPB. Tem mais é de gostar mesmo de Bruno e Marrone (olha os nomes!), Rick e Renner, Banda Calypso, Edson e Hudson, Vítor e Léo... Meu Deus!
E asssim, aqueles que têm excesso de bagagem vão indo. Seu horizonte é imenso. Viajam para Paris, Londres, Berlim, Moscou, Carcassonne, Colônia, Toulouse, Barcelona, Madrid, Kiev, Minsk, Praha, Lisboa, Cartagena, Buenos Aires, Córdoba, Granada, Bordeaux, Estrasburgo, Colmar (Uau!), Oslo, Leipzig... o Mundo todo. Pelos livros. Já aqueles que passam toda noite e finais de semana em botecos têm o horizonte limitado pela calçada da mesa em frente. Nas férias, o máximo que conseguem ir é até Caldas Novas! Não que seja um destino ruim, mas é muito perto. Não é necessário excesso de bagagem. E quando ganham um dinheiro numa loteria da vida (afinal, têm um salário de sobrevivência), adivinhem para onde vão?...Tchan-tchan-tchan... Nova York! Ou Miami! Afinal de contas, são as únicas cidades de que ouviram falar. Ficam ricos de dinheiro e continuam pobres de espírito. Não lêem, não se informam... e continuam ouvindo esse negócio aí.
Já os que lêem, viajam, como já disse, sem tirar os pés de casa. A Literatura os conduz aos confins do Mundo. E quando ganham um dinheiro, seja trabalhando (economizando. Afinal ganham pelo um pouco mais do que o suficiente para sobreviver) ou numa loteria da vida, procuram outros rumos: França, Alemanha, Inglaterra, Europa enfim, ou Egito, ou Japão. Conhecer outras culturas. Afinal, é turismo cultural. E pagam pelo excesso de bagagem: são caluniados, agredidos de várias formas (sonoramente é uma delas, às vezes fisicamente), são humilhados. Que fazer? Lamentar. Afinal, os que não lêem, os que vivem nas trevas da ignorância não vêem mesmo um palmo à frente do nariz.

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