segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A aposta na mediocridade

Segundo amplamente divulgado, a Globo teve no domingo, dia 11/12/2011, seu pior desempenho no ibope (minúsculas mesmo, ou seja, audiência) de toda a história. Sem a atração dos jogos do Campeonato Brasileiro, a emissora carioca obteve, em média, 10% dos aparelhos ligados na Grande São Paulo, contra 12% da Record. Pela primeira vez, desde que foi para a Record, Gugu Liberato ficou à frente de Fausto Silva durante todo o tempo que duraram os programas de ambos.

Diz o ditado que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Somente quem viveu as décadas de 70 e 80 do século passado sabe o que representava a Globo em termos de TV no Brasil. O último capítulo de Selva de Pedra em 1972 obteve a hoje impensável marca de 100% dos aparelhos ligados! Era uma época em que a Globo era o veículo de mídia da Ditadura, mas isso é sobejamente sabido e não vou entrar em divagações ideológicas ou idealistas. Quero abordar outro aspecto.

No final dos anos 60 e começo dos anos 70, ainda não se falava em “redes de televisão”. Ainda mais que as primeiras transmissões em rede apareceram em 1969, para a transmissão da Copa do Mundo, primeiro grande evento transmitido ao vivo para o Brasil.

Abro aqui um parêntesis para dizer que me lembro perfeitamente da primeira transmissão ao vivo para Uberlândia, pela antiga TV Triângulo, hoje Rede Integração, afiliada da Rede Globo (a primeira, por sinal), um jogo de futebol, Santos e Corinthians! A imagem toda chuviscada, mal dando para perceber os jogadores. Mas era uma transmissão teste, e meu saudoso pai, corinthiano doente, mexendo na antena interna, buscando um melhor sinal. Pelé e Rivelino jogando!!!

Um tempo totalmente diferente, quando cada emissora pelo Brasil afora podia comprar programas de qualquer emissora de São Paulo, ou Rio. Assim é que a TV Triângulo mostrou os Festivais da Canção da Record, algumas atrações da extinta TV Excelsior, como a novela Redenção, eu acho, da TV Tupi, etc.. Por outro lado, ninguém em Uberlândia viu Irmãos Coragem, da Globo! Interessante, né?

Pois bem. Era um tempo em que a Globo podia se dar ao luxo de apresentar, nas manhãs de domingo, um programa visualmente belo e intelectualmente fino: Concertos para a Juventude, quando, durante uma hora, orquestras eram apresentadas tocando clássicos da música erudita! Dá para se pensar nisso hoje?

Vila Sésamo era apresentada no final da tarde e voltada para o público infanto-juvenil. Apesar das situações engraçadas criadas, com Garibaldo e Cia., com Aracy Balabanian e Sônia Braga e todo o elenco, os bonecos traziam ensinamentos que preparavam, de certa forma, as crianças para a escola, quando não, para a vida.

Todavia, era uma época em que, como hoje, as forças dominantes não tinham o mínimo interesse em que o povo se tornasse informado e culto. Como já escrevi algures, povo desinformado é povo controlado. É gado.

Assim, exceto por um ou outro programa educativo em horário nobre, eram inexistentes outros. As novelas iam moldando os gostos, a moda, os costumes. A fórmula genial criada pelo Boni, com três novelas, a das sete (não existia a das seis), a das oito (que transformou-se em “das nove” por conta da concorrência da novela Pantanal, da extinta Manchete que estava “engolindo” o noticiário da Globo) e a das dez (algumas marcaram época: Bandeira 2, Gabriela, Saramandaia, O Grito, etc.), com o Jornal Nacional e a linha de shows às nove (só para citar alguns, Planeta dos Homens, Viva o Gordo, Globo de Ouro, o antigo A Grande Família) no meio.

E a Globo apostou no status quo, pensando que sua liderança jamais seria contestada.

Todavia, no começo dos anos 80, com o surgimento do SBT encima das cinzas da finada Rede Tupi, e a emissora de Sílvio Santos apostando numa programação voltada para as camadas populares, justamente aquelas abandonadas à sua sorte pela Globo, a poderosa emissora de Roberto Marinho começou a perder espaço nos lares brasileiros. Um processo bastante lento, mas que acabou dilapidando a quase unanimidade da Globo.

Com uma proposta muitas vezes apelativa, o SBT, depois as demais, Record, Rede TV!, etc, fizeram da audiência uma pizza diluída por vários usuários. E chegamos no final de 2011 com a poderosa Venus Platinada perdendo, pela primeira vez, a liderança absoluta para uma rival específica, a Record.

Quem planta, colhe. Hoje, com as “atrações” do Faustão aos domingos sendo do quilate de César Menotti e Fabiano (argh!), Marco e Mário (putz!), Michel Teló (caramba!), Luan Santana (ui!), não dá para esperar muito. Afinal, são as mesmas apresentadas nas concorrentes. Fica apenas o carisma ou a capacidade de enrolar o público, ou de apresentar alguma baixaria de maior quilate. Quem não se lembra do Faustão trazendo pela mão um cantor do Nordeste, eu acho, de pouco menos de um metro de altura, ou do Gugu apresentando uma entrevista com um suposto criminoso de uma facção criminosa, ameaçando meio mundo de morte? Isso foi noticiário na Imprensa por semanas. Audiência a qualquer preço!

Voltando à vaca fria. Caso tivesse apostado na Cultura brasileira, na Educação, a Globo hoje poderia desfrutar das mesmas audiência e liderança que desfrutou por décadas. Bem como ser lembrada, depois da Ditadura, como o veículo que ajudou a tornar nossos habitantes em verdadeiros cidadãos. No entanto, apostando em políticos corruptos e na vulgarização dos costumes, a poderosa emissora carioca, hoje, colhe os frutos que plantou. Temos um povo de terceira categoria, sem cultura, sem identidade, do qual 33 milhões não sabem ler ou, quando lêem, não sabem interpretar o que leram; os analfabetos funcionais.

Fausto Silva cita, vez por outra, seu antigo programa na Band, o Perdidos na Noite. Lembro que eu costumava assisti-lo todo sábado à noite. Era a oportunidade de ver e ouvir as verdadeiras atrações do programa. Verdadeiros artistas da música brasileira: Alceu Valença, Guilherme Arantes, Zé Ramalho, Milton Nascimento, Beth Carvalho... Bem diferente do que aparece na tela do plim-plim hoje. Fora as brincadeiras inteligentes daquele programa, ironizando a mesma Globo com o Tela Morna, por exemplo.

A Globo apostou na mediocridade. Hoje, o povo brasileiro é pura massa de manobra daqueles que faturam alto sobre a ignorância dos semelhantes. Como urubus sobre a carniça. Exploram a parvoíce geral. Precisam disso. Se aparece uma “nova” dupla sertaneja, é porque uma já está em decadência. Cheguei a essa conclusão com o “advento” de Marco e Mário. Que dupla estaria em decadência ou se desfazendo? Rick e Renner, foi a minha conclusão! A “nova” vem para substituir a “velha”. É assim que funciona. Se alguma outra dupla começar a cair, podem ter certeza que uma outra vai aparecer. A máquina vai muito bem azeitada.

Aposto que se fizerem uma pesquisa, vão ver que a cada aparecimento de uma “dupla de sucesso”, é porque outra já deu o que tinha que dar. Alguem aí ainda se lembra de Gian e Giovanni? Por outro lado, Vítor e Léo estão bombando!

Não tenho certeza se a Globo vai afundar ainda mais. Afinal, ela tem muito dinheiro e os direitos de imagem sobre os principais times de futebol do país. E o futebol é o ópio do povo. Mas, até quando? A Record já mostrou que também tem dinheiro. No momento em que a Venus perder mais essa atração (já perdeu o Pan e as Olimpíadas) tende a cair mais ainda. As novelas da emissora do Bispo ainda perdem em qualidade na sua produção e seu visual. Mas a distância para as da Globo já não é tão grande. E se a Record conseguir roubar o espaço das novelas da Venus, creio que não sobraria muita coisa da emissora carioca. A Globo nunca soube nem precisou correr atrás.

O Boni nunca fez tanta falta para a Globo!

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