quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Os incomodados que se mudem

Há alguns dias atrás fiz uma viagem de ônibus de Uberlândia a Goiânia. Devo dizer que foi uma das mais confortáveis e também uma das mais desagradáveis que já fiz. Por questão de princípios, não vou citar o nome da Empresa porque não tem nada a ver. Ainda mais que, adivinho, a maioria dos que lerem esse artigo vão me crucificar, como fizeram comigo lá, mas não estou nem aí.

A Empresa, diferente daquela que eu constumeiramente utilizo (tive de comprar a passagem encima da hora e, não tinha passagem, utilizei esta outra), dotou aquela linha de um ônibus moderno. Tão moderno que tinha um DVD player em perfeito estado de funcionamento.

Até aí, tudo bem, não tenho nada contra quem quiser ver um filme durante a viagem, enquanto aqueles que não o desejam podem, simplesmente, ouvir uma música num MP3 ou MP4, ou mesmo ler um livro, ou fazer palavras cruzadas, sei lá. Ocorre que o motorista resolveu colocar um DVD de uma banda(?) (DJAVU!?) com o som nas alturas!

Abro aqui um parêntesis: gosto musical é uma coisa muito pessoal. Quem lustrou um banco de uma boa Universidade sabe o que estou falando. Já quem entrou ou cursou algum curso em “qualquer” “Universidade” não vai conseguir captar a sutileza. Estes últimos acreditam que exista “sertanejo universitário”(!) como se as duas coisas fossem compatíveis!

Pois bem. A começar que o motorista parou por mais de meia hora no depósito da tal Empresa para pegar encomendas que deveria levar na viagem. Aproveitei o momento para pedir, gentilmente, que ele tirasse aquele som, uma vez que esse “negócio” me incomoda e eu penso, por ser um princípio básico do Direito, que meu direito de não ouvir aquele lixo se sobrepõe ao daqueles que querem ouvi-lo. Ainda mais em se tratando de um ambiente fechado. O motorista simplesmente disse que não iria tirar porque “todo mundo” dentro ônibus estava gostando. Tentei ainda argumentar que a coisa não era bem daquela maneira, mas ele deu-me as costas e eu tive de retornar para o ônibus.

Nas quase duas horas seguintes, o ônibus transformou-se, naturalmente, no equivalente a uma boate de quinta categoria, com aqueles energúmenos berrando a todos os pulmões aquelas “letras”. Sem falar na baixaria que é aquelas mulheres rebolando sem um pingo de sincronismo, nas telas do DVD, em movimentos que não tem a mínima condição de ser chamados de dança.

Pensei que, ao fim daquela agressão, eu poderia esperar que o motorista tivesse o bom senso de tirar qualquer som, uma vez que dava, com certeza, para ouvir da cabine dele a algazarra que aquele povo desclassificado fazia. Por fim, aquele lixo acabou e o motorista tirou o DVD, mas colocou um som ambiente durante o resto da viagem: Milionário e José Rico.

Bem. Nada contra Milionário e José Rico, que eu considero sertanejos autênticos, sertanejos de primeira hora, como eu já escrevi alhures, mas, ainda assim, não é toda hora que eu estou a fim de ouvir sertanejo autêntico. Ainda mais depois de ouvir todo aquele lixo antes.

Quando, finalmente, desci na Rodoviária de Goiânia, fui falar novamente com o motorista sobre aquilo que aconteceu no ônibus e ele voltou a dizer que só colocou porque “todo mundo” gosta. Não custa imaginar que esse sujeito se coloque no meio desse “todo mundo”. Como eu insistisse na reclamação, ele saiu com a seguinte pérola: “Então você pegou o ônibus errado!”

...

Infelizmente, eu devo discordar do Presidente Lula, quando disse que “o melhor do Brasil é o brasileiro.” Acho que o melhor do Brasil é o seu território. Fico com o piadista:

“Quando Deus criou a Terra ele a mostrou para seus anjos e arcanjos, explicando como seria povoada. Ao fim da explicação, um dos arcanjos disse:

- Mas, Senhor. Como pode? Vede bem: a Rússia vai ser o maior país do Mundo, mas a maioria das terras não poderão ser cultivadas devido ao frio; a China vai ter o segundo maior deserto do Mundo e toda cheia de montanhas; não dá para cultivar muita coisa; o Canadá é a mesma situação da Rússia; os Estados Unidos vão ter o Alaska da mesma forma, fora o deserto de Nevada e as Montanhas Rochosas. Já o Brasil... o Brasil vai ter a maior área de terras cultiváveis do Mundo, ouro pra dar com o pau, minérios, a maior reserva de água doce, fora o petróleo que vão achar no fundo do mar. Como vós explicais isso?

E calmamente, Deus respondeu:

- “Você precisa ver o povinho que eu vou botar ali...”

Esse é o “povinho” que habita essa terra maravilhosa. E não me venham dizer que é a minoria. Não é, não! Quem ouve esse tipo de porcaria não tem o mínimo senso de limite, de respeito! Prova disso é este fato que eu narrei.

Quem já não passou pela experiência de ter de estudar, ou ter alguma criança pequena em casa necessitando de dormir, ou algum idoso que precisa de repouso, e cujo vizinho coloca o som na maior altura com a desculpa que “eu estou na minha casa!” Acontece que o som do imbecil está entrando na sua casa! E se você vai reclamar, corre até o risco de ser insultado, agredido ou coisa pior! Ou não?

Infelizmente, esse é o retrato do Brasil. Para quem pode, a solução é mudar-se para o exterior, para um Estados Unidos, ou França, ou Suíça, ou Irlanda, ou algum outro lugar onde as coisas funcionem. Onde o seu direito mínimo de descansar num final de semana depois de uma semana “puxada” de trabalho vai ser respeitado. Onde o seu vizinho nem vai colocar o som mais alto porque sabe que O SEU DIREITO COMEÇA ONDE TERMINA O DELE. E vice-versa.

Assim é. Eu bem que gostaria de me mudar do Brasil. Sentiria saudades imensas da terra. E essa baboseira da maioria das pessoas que emigram e voltam depois dizendo que tem saudades do “calor” do povo brasileiro não me afeta nem um pouco. Tenho um amigo que morou algum tempo no exterior e diz que gostaria de voltar e morar lá definitivamente. E qualifica esse negócio de “calor” como bobagem. Ele prefere, como eu, um lugar onde as coisas funcionem. A começar pela Justiça, a começar pelo Direito.

Eu penso que me daria bem no exterior, sim. Afinal, uma coisa que eu valorizo muito é a discrição. E esse povo não sabe o que é isso. Berram, xingam, ofendem... e não se constrangem nem um pouco! E não me venham com essa coisa de que eu sou fascistóide ou coisa que o valha. Eu não tenho cara de eleitor típico de FHC ou Serra. Muito pelo contrário. Apóio o Governo do PT pelos avanços sociais que promoveu, justamente para esse povo mal-educado e sem princípios. Gostaria apenas que ele avançasse na escala intelectual, cultural e moral. Porque, segundo esse mesmo povo, “todo mundo” no Congresso Nacional é corrupto. Todavia, esse “todo mundo” corrupto saiu desse “todo mundo”, esse mesmo povo, que votou neles.

Obviamente, eu acredito que existam pessoas decentes. Desculpem-me se eu me coloco entre elas. Mas é justamente por eu ter noção de limite, de respeito, e sei que o meu direito termina onde começa o do meu colega, do meu vizinho, do meu semelhante, enfim, que eu me coloca nessa minoria. Talvez seja por isso que eu não tenho ambições políticas. Acho que os políticos do Brasil estão de bom tamanho para o povo do Brasil.

Enquanto isso, para “todo mundo”, aqueles que não estão satisfeitos, que procurem outro caminho. Eu, por exemplo, gostaria muito de morar na Irlanda. Como não tenho condições, vou tendo de aturar gente do mesmo tipo daquela de dentro daquele ônibus. Aturar o “povinho” que foi posto aqui. Seria interessante que, quem ler isso, passe adiante. Por razões óbvias, não acho que vá produzir qualquer efeito. Ainda que isso tudo seja gritante, o imbecil que coloca esse tipo de som na maior altura, seja em casa, seja no carro, ainda vai continuar acreditando que ele tem razão e vai continuar fazendo isso! Afinal, no Brasil, o direito da Força se sobrepõe à força do Direito. E se você não tem a quem recorrer, o que você pode fazer? Mudar de residência.

Só pra fechar, relatei esse fato à tal Empresa há mais de uma semana. Não deram resposta. Certamente, quem leu a reclamação faz parte de “todo mundo.”

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