quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Atrasado

Vou tentar manter alguma publicação neste blog com alguma regularidade daqui por diante. Assim, publico hoje, mais a título de registro, um texto que escrevi ainda durante a campanha presidencial que elegeu a Presidenta Dilma, quando o PIG (Partido da Imprensa Golpista) despejava rios de denúncias contra o Governo Lula, como hoje, na esperança de elegerem aquela figura caricata chamada José Serra. Quando escondiam, como hoje, as mazelas e falcatruas do Governo FHC. Naqueles dias, não sei por que cargas d'água, eu não consegui acessar o blog e acabou que fiquei sem tempo e o texto ficou numa pasta do meu notebook. Mas, aí vai. O texto teria o nome de "Café puro". Informo que algumas ideias minhas mudaram neste período, mas a essência, não.

"A Primeira República, ou República Velha, ficou conhecida, a partir de 1891, como a República do Café-com-Leite. Ou foi a política do Café-com-Leite o nome da política adotada. Isto porque, a partir do Governo do paulista Campos Sales, São Paulo, maior produtor de café do país, e Minas Gerais, maior produtor de leite, revezaram-se no poder supremo do Brasil: sempre um presidente paulista e um vice mineiro numa gestão; um mineiro presidente e um paulista vice na outra, com duas excessões no período: Hermes da Fonseca (gaúcho) e Epitácio Pessoa (pernambucano). Até que, em 1930, o paulista Washington Luís forçou a eleição de outro paulista, Júlio Prestes, para seu sucessor e a elite mineira revoltou-se, unindo-se à elite gaúcha, derrubando Washington Luís e colocando Getúlio Vargas na presidência do “Governo Provisório”. Isto é História.

Chegamos ao ano 2010 e o Brasil passa por um período de estabilidade democrática jamais experimentado em sua história. O voto é facultativo, secreto e livre para qualquer cidadão a partir dos 16 anos de idade. O nosso presidente é um nordestino, de origem humilde, forjado nas lutas sindicais. Bem diferente daqueles tempos em que apenas os homens, com certa renda mínima e que soubessem ler e escrever, num primeiro momento, e depois os votos de cabresto em que qualquer um que soubesse ler e escrever podia votar, mas um voto aberto, sujeito à fiscalização e represália dos “coronéis”, os manda-chuvas das regiões.

Pois bem. Hoje, quando a disputa pela cadeira de Presidente da Repúbica começa a esquentar, podemos olhar para trás e analisar o que tem sido a escolha do partido tucano às últimas eleições para Presidente, desde a renúncia do alagoano Fernando Collor e do fim do mandato do mineiro Itamar Franco: paulistas, paulistas, paulistas...

O Plano Real elegeu o paulista Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, em 1994, que congelou os salários dos funcionários públicos por sete anos, exceto daqueles que tinham força política ou de pressão suficiente para forçar o Governo a repor suas perdas: Receita Federal e Polícia Federal, por exemplo.

Em 1998, o paulista FHC, do PSDB, foi reeleito e alcançamos a marca histórica de taxa de juros no Plano Real (entenda-se inflação baixa) de 42,5% (!!) ao ano, com taxas de inflação de menos de 13% ao ano (e salários congelados). Obviamente, a Grande Imprensa jamais teve interesse em divulgar isso, quando dizia que o auge da taxa de juros no Governo Lula, de 18,5% ao ano, era exorbitante.

Em 2002, finalmente, Luis Inácio Lula da Silva, pernambucano, do PT, foi eleito Presidente da República, derrotando o paulista Geraldo Alkmin, do PSDB.

Em 2006, Lula, do PT, se reelege derrotando o paulista José Serra, do PSDB.

Em 2010, desenha-se o embate entre a mineira Dilma Rousseff, do PT, e o paulista José Serra, do PSDB.

Dezesseis anos se passaram desde que o PSDB lançou a candidatura do primeiro paulista, FHC, à Presidência. E, desde então, sempre é um paulista após outro que é apresentado ao eleitor como “o nome ideal”. Obviamente (e o PT agradece), a arrogância dessa elite paulista não permitiu-lhe ver que o melhor nome em seus quadros para a disputa do comando do País é o de um mineiro: Aécio Neves. Talvez, o neto de Tancredo pudesse provocar uma disputa mais apertada pelo Planalto. Como está, para o bem do Brasil, a ministra Dilma deve vencer.

Desde 1994, depois de tantas décadas, a elite paulista tenta refazer o que Washington Luís tentou e não conseguiu: perpetuar-se no poder. Com a diferença que, desta vez, com um instrumento mais ético: o voto secreto. É a política do Café Puro: o que é bom para São Paulo, é bom para o Brasil. Ainda que o resto do Brasil se lasque!

Vai ser bom ver a ministra Dilma, mineira e mulher, ocupar a cadeira de Presidente e fazer História. Enquanto isso, os paulistas do PSDB (nada contra o povo de São Paulo, certo? Apenas contra essa elite obtusa desse pseudo partido social-democrata) podem degustar suas torradas de arrogância tomando seu... café puro."

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