domingo, 18 de dezembro de 2011

Lembrando 2006 (1)

Na “cola” do artigo interior (Os incomodados que se mudem), escrevo uma experiência semelhante que ocorreu comigo em 2006.

Desde que o Xadrez passou a fazer parte dos Jogos Abertos do Estado de Goiás em 2001 até aquele ano, eu fui o árbitro principal da modalidade. Sem grandes atropelos, já em 2001, com uma bagagem de mais de 15 anos como árbitro da Federação de Xadrez do Estado de Goiás, nunca tive problemas nas diversas edições dos jogos. Até 2006.

Na última etapa classificatória dos jogos, que ocorreu em São Miguel do Araguaia, como sempre, os árbitros e organizadores embarcamos na sexta-feira em frente ao Ginásio Rio Vermelho, no Centro de Goiânia, com destino a São Miguel, no ônibus que a AGEL – Agência Goiana de Esporte e Lazer – sempre disponibilizava. Sem levar em conta o atraso de mais de uma hora, um problema menor, uma vez que estava marcado o embarque para as 20 horas, saímos às 21 horas e 10 minutos.

Certamente, alguém pode perguntar como eu posso lembrar-me de tudo com tantos detalhes. É fácil responder: quem passa por algum tipo de experiência traumática, lembra de todos os detalhes facilmente.

Durante as 3 horas seguintes, dentro do ônibus, os árbitros da modalidade Capoeira (alem deles, tinham os de xadrez – eu, meus amigos Renato Genovesi e o saudoso Paulo César Leão Gomes – além de alguns do futsal, e alguns do pessoal de apoio) ocuparam o fundo do ônibus e passaram a berrar “letras” de “músicas” do naipe de “tira o carro, põe o carro”, “armei uma arapuca na beira da estrada”, além de outras pérolas da baixaria generalizada que já dominava e ainda domina hoje o mercado e as audições das rádios pelo Brasil a fora.

Volto a dizer que gosto é uma coisa pessoal, um ônibus é um ambiente fechado, e um princípio fundamental da boa convivência é o respeito. Obviamente, para quem ouve e berra esse tipo de lixo, esse tipo de conceito é incompreensível. Espero que quem ler este artigo tenha inteligência e discernimento suficientes para entenderem este princípio.

À 00 hora e 10 minutos, exatamente 3 horas após o início da viagem eu me virei para trás e pedi silêncio (em altos brados, não nego, mas a minha paciência já tinha se esgotado, naturalmente), uma vez que eu queria dormir (faltavam talvez umas 3 ou 4 horas de viagem ainda) e que meu ouvido não era penico.

A partir daí eu tive de ouvir palavras de deboche, agressões verbais, xingamentos, etc., uma vez que “todo mundo” gostava daquele lixo. Exceto alguns dos outros passageiros que se calavam, pois eram amigos e não queriam se indispor, ou porque gostassem “daquilo” também, ou temessem, talvez, uma agressão física, coisa que esteve prestes a acontecer, conforme me disse o Leão, já que eu estava tão possesso que não vi um sujeito se desgarrar daquela turba, um tal Toninho, um moreno alto e troncudo, e se aproximar de mim. E, certamente, eu teria sido agredido se, providencialmente (Providência Divina? Às vezes, penso que sim), os dois (!) pneus traseiros direitos do ônibus não tivessem estourado (!) e o motorista quase perdido o controle do ônibus em alta velocidade. Felizmente, ele conseguiu controlar o ônibus e leva-lo para o acostamento, bem perto de um posto na beira da estrada. Até cerca de 5 da manhã ficamos ali até que a organização dos jogos providenciasse algumas vans para buscar-nos e pude dormir pouco mais de duas horas antes do início das partidas, às 9 da manhã.

Tudo bem. As partidas terminaram no meio da tarde daquele sábado e só teríamos de esperar pela manhã ou tarde do dia seguinte para embarcarmos de volta para Goiânia. Segui para o hotel, onde eu pude, depois de um bom banho, dormir relativamente cedo e recuperar um pouco do sono da péssima noite anterior.

Tínhamos a opção – Renato, Leão e eu – de embarcarmos por volta de 2 da tarde daquele domingo no ônibus de volta para Goiânia. Ocorre que “pintou” uma Kombi da organização retornando ainda pela manhã, por volta de 11 horas, e tinham vagas suficientes para nós três. Sem ter mais o que fazer naquela cidade, decidimos retornar nesta.

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