quinta-feira, 10 de julho de 2008

As Lições do Mestre 1

Retomo o que comentei em Contos da Carochinha no mês passado: a idéia de Seleção Brasileira. Quem foi o melhor técnico que a Seleção Brasileira teve? Certamente, a grande maioria dos torcedores vai dizer: “Felipão!” Por que? “Porque foi ele que montou a Seleção campeã de 2002.” Alguns mais antigos talvez digam: “Feola!” Por que? “Foi ele que montou a Seleção de 1958, uma das maiores de todos os tempos, que abriu caminho para que o Brasil se tornasse uma potência no futebol.” Não duvido que outros possam até dizer: “Zagallo!” Por que? “Foi ele que montou a Seleção de 1970, a maior de todos os tempos.” Foi? Na minha opinião, o maior técnico que a Seleção Brasileira teve foi João Saldanha. A grande maioria dos torcedores vai ficar espantanda, certamente. Afinal, para ela, quem foi João Saldanha? Quando foi isso? O que ele ganhou?

Para quem não conhece, na verdade, João Saldanha foi o técnico que montou a Seleção Brasileira de 1970, a maior de todos os tempos. Todavia, todo mundo só fala em Zagallo, há um interesse enorme em dar todos os méritos para este em detrimento daquele. Apesar de tudo, em 1974, Zagalo montou a “sua” Seleção, que foi varrida pelo Carrossel Holandês de Cruijf. Uma Seleção que não tinha cara nenhuma de 1970, esta, um time que jogava pra cima dos outros. A de 1974 era uma Seleção retrancada, como sempe foi o estilo do Zagalo.

Todavia, o ensinamento de Saldanha deveria ser seguido, especialmente por técnicos de Seleção Brasileira. Vejamos a escalação do time de 1970: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Pelé; Jair, Tostão e Rivelino. Uau! Timaço! Individualmente: Félix (Fluminense), não era o melhor goleiro, Ado do Corinthians era melhor, mas uma Seleção dessas não precisava de goleiro e deve ter havido aí uma jogada política; Carlos Alberto (Santos), o melhor na posição; Brito (Botafogo) era um tanque, nada passava por ele, se passasse a bola, o adversário ficava, ou vice-versa; Piazza (Cruzeiro) era volante! Todavia era craque e o Saldanha promoveu-o a titular em lugar de outro cruzeirense, Fontana, que ficou no banco. A primeira lição do Mestre Saldanha! Everaldo (Grêmio) acabou ficando com a vaga de titular devido a uma contusão de Marco Antônio (Botafogo). Marcava muito eficientemente. Clodoaldo (Santos) era o volante habilidosíssimo da máquina santista. Se invertessem-no com o Piazza não haveria problema nenhum; Gérson (Fluminense ou São Paulo?) era o armador, o Canhotinha de Ouro, fazia lançamentos de 40 metros onde a bola parava no pé do companheiro. Só quem viu pra saber; Pelé (Santos), o Rei... sem comentários; O ataque é que é a obra-prima do Saldanha: Jair (Botafogo), o Furacão da Copa, artilheiro do Brasil, jogou como ponta-direita, mas nunca foi ponta! Era meio-campo e craque! Tostão (Cruzeiro), um dos mais inteligentes jogadores de todos os tempos, jogou como centro-avante, mas nunca foi centro-avante! Era meio-campo e craque! Tostão jogava sem bola. Quando o Jair entrava sozinho, era comum ver o Tostão num canto da telinha com dois ou três joagdores marcando. É que ele tinha levado a defesa com ele para que o colega ficasse livre. Um espetáculo! Tostão era tão técnico quanto Pelé; Rivelino (Corinthians), a Patada Atômica, jogou como ponta-esquerda, mas nunca foi ponta! Era meio-campo e craque! Inventou o elástico e era ídolo de Maradona, vejam só! O ataque era formado todo por meia-atacantes, não jogadores de ofício, apenas craques, mais três lições de Mestre Saldanha.

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