sexta-feira, 11 de julho de 2008

A Herança Cultural

Sempre que explode algum caso de corrupção no Brasil, ou seja, quase todos os dias, e algum iluminado em alguma parte do país quer comparar este comportamento com o de outros países de Primeiro Mundo, logo diz: “Também, quando Portugal resolveu povoar o Brasil, só mandou para cá a ralé, só veio ladrão, enquanto a Inglaterra mandou cientistas para os Estados Unidos e bla-bla-bla...” Ou seja, nós herdamos de ladrões e vigaristas esta alma brasileira. Será?

Esta teoria é totalmente questionável. Desonestidade não é um fator genético. É um fator moral. Ou se é honesto, ou se não é. É questão de escolha. Todavia, este argumento me soa como uma forma de justificar a própria miséria moral em que o indivíduo vive. Há alguns dias vi uma reportagem em telejornal em que foi mostrada uma gravação, conseguida com autorização da Justiça, onde um empresário tentava convencer um agente executivo, municipal ou estadual, não me lembro, a desviar uma verba em favor de ambos, em que ele dizia: “Isso é dinheiro público, não é dinheiro de ninguém”.

Deus meu! Dinheiro de ninguém! Neste caso, era possível dividi-lo entre eles! Este desclassificado, certamente, não sabe que dinheiro público tem dono, sim: é o povo. E este “dinheiro de ninguém” é que deveria financiar a escola pública, a saúde pública, os programas de inclusão social, geração de emprego! E que é devido a uns criminosos como estes que milhares de pessoas passam fome todos os dias, não têm uma escola decente, um atendimento à saúde apropriado, uma moradia conveniente. Enquanto isso, estes elementos sem honra nem decência desviam esta mesma verba que poderia dar outra cara para o país.

Certamente, há um interesse enorme em perpetuar esta mentira de que somos uma sub-raça, de que herdamos a malandragem, a desonestidade, o crime, dos primeiros povoadores desta terra. Todos os dias veríamos casos de honestidade explícita, de ombridade saliente, se dessem audiência em jornais e TVs. Todavia, o que vende para o público em geral é a violência, a corrupção, a maracutaia (como gosta de dizer o Presidente Lula), tudo o que não presta, o que não acrescenta, o que não educa. De modo que o povo mal-informado e mal-educado vai assimilando isso. Não estaria na hora de o Governo intervir e exigir que, pelo menos, metade da programação das emissoras de TV e Rádio seja educativa? Que saudade de Vila Sésamo! As crianças de hoje em dia só têm Power Rangers ou DragonBall Z para ver, onde o mocinho resolve as suas diferenças no braço, em defesa do “bem”. Porém, o conceito de “bem” é muito subjetivo e, dependendo do grau de egoísmo de cada, pode gerar adultos totalmente desajustados. Aliás, é o que nós já vemos hoje em dia. A minha esperança é que a Internet possa quebrar esses paradigmas, no momento em ela abre espaço para coisas boas, muito boas, por aí. Com uma campanha maciça de incentivo à leitura, então, seria maravilhoso. E que a herança cultural que passaremos para as futuras gerações seja a da honestidade, a da correção. Sem genética, apenas exemplo.

Um comentário:

Gedilson Lima disse...

Maurão,

Comentando a parte final do último parágrafo, a meu ver, a Internet reflete o que há na sociedade. Ela é somente uma ferramenta. Pode ser usada para coisas boas ou ruins.

Falei alguma coisa sobre isto no meu Blog. Vejo a Tecnologia da Informação mudando o mundo, não por ela em si, mas pela oportunidade oferecida sem distinção de raça, cor, gosto, credo, posição partidária, etc.

Você é prova disto quando usa uma das derivações desta ferramenta: o Blog!


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