sexta-feira, 4 de julho de 2008

Scaramouche

Citei anteriormente vários livros que eu reputo agradáveis e com conteúdo e que acho deveriam ser lidos por todos. Deixei de citar este que dá título ao texto. Scaramouche é um romance histórico de ficção, escrito por Rafael Sabatini na primeira metade do Século XX, e se passa durante a Revolução Francesa. Posso dizer que um dos mestres em que me espelhei para escrever meus dois livros foi exatamente este.

Scaramouche conta a história de André Luis Moreau, advogado de um fidalgo (!) da pequena nobreza francesa pouco antes do início da Revolução. Cético, o rapaz não se ilude com as promessas de liberdade, fraternidade e igualdade feitas pelos correligionários revolucionários do clube de Literatura de Rennes. Todavia, ao ver seu melhor amigo, Vilmorin, ser assassinado pelo mais poderoso fidalgo da França, resolve empunhar a bandeira do amigo, ainda que sem convicção. E, segundo o texto, acaba tornando-se o principal instrumento nas mudanças que aconteceram. Interessante notar que todos os personagens anônimos que tiveram papel fundamental na Revolução teriam sido o próprio André Luis.

Para sobreviver, perseguido pela polícia do rei, o jovem se une a uma trupe de atores saltimbancos (reconheço que aproveitei esta idéia em O Visitante, mas foi só), onde se torna ator e roteirista. Após vários tropeços, o moço acaba tornando-se auxiliar de espadachim numa academia e a herda quando o dono, de quem se tornara amigo, morre numa manifestação. Nesta altura, a Revolução já vai de vento em popa e, ao tornar-se deputado, a convite de Danton, na Assembléia Constituinte que deveria implantar uma Monarquia Constitucional e salvar a França do desastre, mas que não chegou a vingar, ele tem a oportunidade de enfrentar o velho rival, assassino do amigo em duelo, cujo desfecho é surpreendente. Neste meio tempo, ele tem a espinhosa missão de salvar a amiga de infância e amor de sua vida das garras dos revolucionários. Aline é uma aristocrata. Para tanto ele teria de trair os ideais da Revolução, que acabara por abraçar. No entanto, um diálogo inesperado no final do livro lança dúvidas sobre os verdadeiros intentos daqueles que comandavam a Revolução: “Acreditas realmente que a turba pode viver sem um Governo?” Afora estas, várias outras citações permeiam o livro. Certamente, um dos melhores romances que já li.

Convém dizer que, infelizmente, Hollywood conseguiu estragar uma história fantástica. Estrelado por Stuart Granger, fisicamente um André Luis perfeito, o roteirista conseguiu transformar o astuto e perigoso intrigante Scaramouche num mero espadachim, preocupado unicamente em vingar o amigo num duelo vazio, quando o objetivo do Scaramouche literário era mover toda a máquina chamada Revolução para esmagar o inimigo.

A última edição que conheci de Scaramouche foi pela Coleção Paratodos nos anos 1980, eu creio. Quem se interessar, procure-o nos sebos. Posso garantir que não há de se arrepender.

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