quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ingrid

Não quero ser repetitivo. Afinal de contas, o assunto de hoje pelo Mundo afora é a libertação da ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Bétancourt, depois de seis anos em poder das Forças Aramadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Porém, seis anos é um bocado de tempo. Remeto-me a 2002 e lembro que O Visitante só iria ser editado em outubro daquele ano. Depois disso, ainda escrevi A Batalha de Poitiers. É bastante tempo. É inconcebível que uma facção, armada ou não, queira assumir ares de legalidade mantendo um ser humano ( no caso das FARC são mais de 700!) em cativeiro com o argumento de que se trata de prisioneiro de guerra.

Vi pela TV o reencontro de Ingrid com os filhos ainda a bordo do avião da Força Aérea Francesa, que os trouxe de Paris até Bogotá. Certamente, simpatizantes das FARC dirão que a televisão simplesmente explorou a emoção do povo numa jogada de marketing contra a guerrilha. Não vi desta maneira. Realmente, o que vi foi o reencontro emocionado de uma família separa brutalmente por um ato de força de um grupo de pessoas que acham seu ponto de vista de mundo melhor que o dos outros e querem impor este ponto de vista a ferro e fogo.

Pergunto-me se existe algum senso de humanidade em pessoas como estas. Existe desculpa para se separarem mãe e filhos em nome de uma “causa justa”. Que causa justa é esta que impõe a dor a uma família inteira? Estes elementos se diferenciam daqueles que sequestram nas cidades em troca de dinheiro? Afinal, este era um dos outros objetivos das FARC. Arrecadar dinheiro com resgates, além de usar os reféns como escudos humanos contra possíveis operações militares contra eles.

Justiça presume retidão, a César o que é de César, não pagar além do que se deve. E eu pergunto:que dívida esta mãe tinha com estes homens? Dizer que a dívida seria do Governo colombiano não implica o uso de pessoas para cobranças. Depois, que dívida o Governo colombiano tem com estes senhores? Um Governo eleito pelo povo, com aceitação de sua esmagadora maioria não pode ser considerado ilegítimo. Então repito a pergunta? O que Ingrid Bétancourt ou a Colômbia deve para estes senhores? Se o julgamento cabe à História, seria hora daqueles que acreditam em soluções violentas para seus problemas, repensarem suas posições. Sejam agentes, sejam simpatizantes, com certeza a História cobrará de suas memórias as dívidas que tenham contraído com a evasiva de que lutavam por uma sociedade mais justa. Sociedade que desrespeitaram com cada ato de excessão que cometeram.

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