segunda-feira, 30 de junho de 2008

Gosto não se discute?

Existem milhares de ditados populares. Qualquer um é capaz de citar algum em alguma ocasião para justificar determinado fato ou atitude. E algumas pessoas tomam ditados como verdades absolutas sem notar que vários deles até se contradizem. Senão, vejamos: “Quem chega antes bebe água limpa” é um elogio à agilidade ou à presteza; por outro lado “Quem espera sempre alcança” ou “O apressado come cru” é uma crítica a esta mesma presteza e um elogio à paciência. Qual dos dois está com a razão? Quem pode dizer?

Um dos mais questionáveis adágios populares é exatamente “Gosto não se discute”. Todavia, é claro que gosto se discute, sim! E por que se questiona?

Gosto pessoal está ligado a valores. É comum uma mulher bela estar com um namorado que para os padrões estabelecidos não é nada atrativo. A pergunta comum é “o que é que aquela gata viu naquele bagulho?” Oras, quem deve saber é ela! Ninguém está junto para saber. Concordo (por experiência própria) que, às vezes, uma pessoa se une a outra por puro entusiasmo, mas quando é possível escolher com isenção, acaba optando por alguém que se encaixe num padrão que lhe é interessante. Exemplo? Determinado craque de futebol. Que me desculpem os admiradores do craque (eu também admiro o craque), mas é um boçal. Não tem a mínima noção de respeito, principalmente pela pessoa com quem está. E, convenhamos, não fosse pelos milhões que tem é totalmente improvável que tivesse tido tantas mulheres belas como teve. E por que isso? Pela ausência de valores. O sujeito só ganha dinheiro, mais nada. Crescimento financeiro altíssimo, crescimento moral nulo. O mesmo se aplica para a mulher que se dispõe a aparecer ao lado dum estúpido desses. Apenas pelos holofotes. Acho que acaba se equivalendo a ele.

Este preâmbulo é para introduzir outra discussão que eu aprecio: música. Eu trabalhei em rádio por 17 anos, de 1977 a 1993. Passei por algumas boas fases da música brasileira. Eu mesmo fui criado, como gosto de dizer, “à sombra dos festivais”. Eu amo MPB, mas ouço muito mais música internacional pelo desafio de entender a mensagem da canção em outro idioma. Assim, junto à bagagem cultural que adquiri em anos de leitura, acrescentei o gosto por música de qualidade. Analisando tudo que aprendi na vida é que cheguei à conclusão que expus no início do texto. Gosto se discute, sim.

Para o indivíduo que sobe na escala intelectual e cultural, coisas do tipo “nóis vai, nóis foi” cada vez agrada menos. Bem como, “sacode a bundinha, joga as mãos pra cima, dá uma olhadinha...”

Deus meu! Quanta baixaria! Quanto vazio! Quanta falta de sutileza! O nível da “música” está tão baixo que o que era considerado brega há vinte ou trinta anos atrás, hoje é considerado cult! Odair José, Márcio Greick, José Augusto, Fernando Mendes... E, hoje, pode-se dizer que tiveram seu papel (importante) na formação da juventudade daquela época e é até gostoso ouvi-los hoje. Mas o material que a atual “música” brasileira apresenta hoje é um pesadelo!

É inconcebível alguém com alguma estatura moral gostar de alguma coisa do tipo “vou pescar que nada, vou beijar na boca...” A letra desta coisa diz de um sujeito que fala para a esposa que vai pescar, mas que, na verdade, vai vadiar, trair a própria mulher. Qual o perfil de alguém que ouve, canta, compra uma escória destas? Afinal, a proposta da música é uma canalhice. Baseado em valores morais, um homem que se dispõe a fazer uma coisa dessas é um canalha. Por outro lado, uma mulher que ouve e acha graça num lixo destes é muito à-toa! Ambos, homem e mulher, estão predispostos a fazer o que a “música” propõe a qualquer momento, desde que haja ocasião. Por que? Por falta de valores.

Sobre outras canções algumas pessoas me dizem coisas como “mas tem uma letra bonita, é uma música romântica”. A estas eu tento fazer entender o seguinte: música de qualidade tem de ter mensagem, além de melodia, além de uma letra trabalhada,etm deter perenidade. Música deve fazer bem ao coração, mas para pessoas cultas e inteligentes, deve dizer alguma coisa ao intelecto. E é fácil ver quando a “música” só tem apelo comercial. Para várias destas pessoas eu apenas digo: “Tá bom, me diz (sic) o grande sucesso de Bruno e Marrone (ou Rio Negro e Solimões, ou César Menotti e Fabiano, qualquer um serve) do ano passado?” É engraçado ver como essas pessoas se confundem simplesmente porque eram APENAS “MÚSICAS” COMERCIAIS, SÓ PARA VENDER, nada mais. Ninguém se lembra daquilo, mas o que está tocando hoje todo mundo sabe!

Querem uma letra bonita?

Olhando um dia de chuva
Vi que mais triste era eu
Que sem estrela e sem Lua
Te procurava no céu.
Fiz do piano, a viola
Fiz de mim mesmo, o abrigo
Fiz da verdade, uma história
Fiz do meu som, meu amigo.

São os primeiros versos de Piano e Viola, Taiguara. E quem sabe quem é Taiguara? Quem cresceu à sombra dos festivais, sabe...

Nenhum comentário: