quinta-feira, 26 de junho de 2008

Para Quem Gosta de Ler

Quando eu tinha apenas O Visitante editado, uma história esparramada por 580 páginas, muita gente me perguntava: “Por que você não escreve um livro mais fino? Esse é muito grosso, as pessoas têm preguiça de ler um livro assim. Dá até preguiça só de olhar.”

Pois bem. Eu sempre gostei de ler. Não era a espessura de um livro que me intimidava. Não fosse assim e eu jamais teria iniciado Memórias de um Médico, de Alexandre Dumas, filho, ou a saga dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, pai, ou mesmo Rocambole, de Ponson de Terrail. O primeiro tem cinco volumes, um deles (A Condessa de Charny) com mais de 660 páginas; o segundo tem sete volumes, sendo que o segundo (Vinte Anos Depois) é uma das mais espetaculares histórias de aventura já escritas (pouca gente sabe que a aventura do Máscara de Ferro é apenas uma parte dessa história) tem mais de 500 páginas; por fim, o terceiro é uma saga de aventura contada ao longo de oito volumes (o termo rocambolesco vem daí).

A justificativa dessas pessoas era que um livro menos denso teria um público maior, porque “todo mundo” o compraria. O que é uma bobagem. Uma pesquisa feita há alguns anos por uma revista (não me lembro qual: Isto É, Veja, Época, não sei) concluiu que os leitores, aqueles que têm realmente o hábito de ler, pelo contrário, preferem livros volumosos, uma vez que, quando a história é agradável, eles querem prolongar ao máximo a convivência com aqueles personagens. E a reportagem cita livros nada modestos como Pássaros Feridos (muito bom!), de Colleen McCullough, e O Catador de Conchas (que eu não li), de Rosamunde Pilcher, este com mais de 1000 páginas!

O Brasil é um país muito grande, mas que lê pouco. E, do ponto de vista puramente comercial, obviamente livros como O Doce Veneno do Escorpião, diário da Bruna Surfistinha, ou Seo Crêisson, Vídia e Óbria, da Turma do Casseta & Planeta (nada contra os rapazes, com cujo programa eu me divirto muito nas noites de terça-feira, mas aquilo não é Literatura) têm um apelo muito maior, uma vez que se pode “ler” e depois mandar para a reciclagem de papel ou coisa que o valha. Uma vez que este é o fim que a maior parte da população brasileira dá para qualquer livro, ainda que seja um bom livro.

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