segunda-feira, 23 de junho de 2008

Trecho de "O Visitante"

A recusa do menestrel fez com que seu semblante se entristecesse. Pensara algo muito diferente do que aquilo que estava acontecendo. Apesar de totalmente inexperiente nas coisas do amor, Lady Catherine esperava Robert muito mais ousado, que a visse como igual, tal como ela o via. Fora até ali disposta a entregar-se a ele quaisquer que fossem as conseqüências. Cada fibra de sua alma vibrava quando ele falava ou cantava e seu corpo ansiava pelo contato do dele. Entretanto, ele se comportava como um padre, como um camponês que só via nela uma pessoa a quem obedecer.
Foi com certo ar de impaciência que ela disse:
- Recusas, então, o meu presente?
- Milady, entendei. Não o recuso por desrespeito a vós. É que ele teria muito maior utilidade para vós que para mim mesmo.
- Tu, porém, nem o examinaste. Pega-o.
Ele tomou o pequeno artefato na mão e passou algum tempo observando-o, Examinou o medalhão e, por sugestão dela, rodou suas extremidades sobre a mão e apertou brandamente até que o corpo central cedeu e se abriu em dois. Robert viu que havia dois retratos pintados em ambas as partes, mas ficou embaraçado ao ver a imagem dela de um lado e a sua própria do outro!
- Milady, é fantástico! Como conseguiste com que me retratassem assim, até com o barrete de menestrel?
- Não foi difícil. Tive bastante tempo para trabalhar nele. Eu mesma o fiz.
Estava satisfeita por poder mostrar, assim, que possuía qualidades que ele desconhecia. No entanto, para Robert ficou claro que aquilo era uma pequena prova do amor que ela sentia por ele e sentiu-se estranhamente inquieto. Uma sensação de melancolia começou a invadi-lo e algo parecia dizer-lhe que deveria fugir dali e que aquela situação não iria acabar bem.
Lady Catherine também começava a sentir-se mal. Toda a emoção do momento, a proximidade do homem amado, o frio, a indisposição que inventara e que parecia, realmente, começar a se instalar em seu espírito, o remorso, tudo parecia contribuir para criar um clima quase lúgubre.
Robert ainda tentou afastar a sensação de mal-estar e disse:
- Sois miniaturista, então? Milady, devo dizer que sois uma grande artista.
- Gostaria de ouvir de tua boca outras palavras.
Seus rostos estavam muito próximos agora. Robert olhou para ela e em seus olhos perolavam duas lágrimas que cairiam a qualquer momento.
Robert não pensou em mais nada. Ele atraiu a dama para si e um beijo longo selou o amor de ambos, mais uma conquista que acrescentaria mais uma quantidade de culpa a seu coração. Um sentimento estranho, mais ainda que o que experimentava pela rainha, brotou em seu coração e ele não saberia mais dizer se, de fato, não amava aquela menina.
Entretanto, o idílio durou pouco. O som de um cântico religioso pareceu brotar das profundezas do santuário. Os jovens amantes se desprenderam um do outro e a cena que viram os estarreceu.

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